domingo, 24 de novembro de 2013

Come mulher, come!

Dia desses compartilhei com amigos do Facebook o quanto admiro mulheres que comem sem reservas. Na ocasião eu estava no balcão do Bar Brasil, tomando um chope e comendo kassler frito. Uma mesa próxima estava ocupada por três homens e uma mulher, e que mulher.

Me chamou atenção a forma como ela, sem qualquer cerimônia, olhava as refeições das mesas vizinhas e das bandejas carregadas pelos garçons.

Suas reações eram magníficas: arregalava olhos ao máximo, respirava fundo, se abanava, ajeitava os cabelos, balançava as pernas, torcia as mãos, se inclinava à frente, um desvario magnífico de gestos.

Quando o pedido da mesa chegou, ela foi a primeira a servir-se, não por cavalheirismo dos rapazes, ela simples e naturalmente tomou a frente e mandou ver.

Pois bem, dias depois, fui agraciado em conhecer a Alice Hipolito na Laje da Jura, na ocasião da comilança em homenagem a derrubada parcial do elevado da perimetral.

Foi outra maravilha ver Alice comendo. Ela simplesmente começou atacando um siri, e sabem o que sobrou do bicho? Só as cascas.

Depois do siri ela se divertiu com um prato de bacalhau com batatas e leite de coco. Na sequência, num intervalo de dois minutos, foi a vez de um prato de nhoque com molho de camarão e queijo ralado.

Para fechar com chave de ouro, ela finalizou o banquete lambendo o prato. Duvida? Veja as imagens.

Tudo isso acompanhado de cerveja para empurrar tudo pra baixo, como diria Tyrion Lannister.

sábado, 23 de novembro de 2013

Café e Bar Casilhas - Copacabana


Foi numa Quarta-Feira, vestindo uma camisa amarela, o dia em que conheci o Café e Bar Casilhas. Foi num mapa astral que descobri que estes são o meu dia e cor da sorte.

Eu estava dando uma perambulada em busca de um novo canto para almoçar, fulo da vida com o lugar onde comia regularmente, não dava mais pra continuar.

Passando pelo Casilhas vi na placa que um dos pratos do dia era frango com quiabo e angú, ponto pra eles. Dei uma olhada em direção à cozinha e eis que surge, negra, majestosa, a cozinheira, lenço branco muito bem ajustado cobrindo todo o cabelo, atrás de si, penduradas em pregos na parede, algumas panelas ariadíssimas. Pronto, seria ali.

Pedi o frango com quiabo, que delícia, papei tudo. Voltei na Quinta e Sexta, comi bem novamente.


                                     
                                                        Seu Rafael e Dona Creuza

Almoço lá quase todos os dias, quando chego o Rafael grita: _ "Olha ele aí, Creuza, o mineirinho, seu filho!".

A comida é muito boa, do tipo caseira mesmo, que vai te fazer lembrar a da tua mãe ou avó com certeza e o preço bem honesto.

O espaço é pequeno, a lateral do balcão é a área destinada às refeições, onde há bancos altos. Gosto de chegar até as 12:15 pelo menos, depois fica muito disputado. Mas, pode-se também comer na parte da frente, menos confortável, pois, não há espaço para as pernas se você resolver comer sentado, de pé seria melhor.

É o tipo de lugar que se pode indicar para aqueles visitantes que querem comer onde o povo local come, sabe? 




O carré com couve e tutu também é servido nas Quartas-feiras, o angú é exclusivo para o frango com quiabo, porém, como já sou amigo da casa há um tempo e "filho" da Dona Creuza, sempre ganho uma porção.



Café e Bar Casilhas
Rua Siqueira Campos, 143 lj. 13
Tel.: 21-25489582

Não aceita cartões.

Funciona de Segunda à Domingo, porém, as refeições são servidas apenas de Segunda à Sexta.






quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Adega D'ouro - Vicente de Carvalho

Sempre ouvi comentários elogiosos a respeito da Adega D'ouro. E era o Carlos Rebelo, o Iracundo, quem mais falava com emocionante entusiasmo. Ressaltava o espetáculo que era os garçons derramarem desbragadamente o azeite sobre a comida e o quanto o bacalhau era espetacular. Sempre após o relato ele mergulhava num silêncio profundo, como que lembrando de coisas que não quisesse dizer. Eu ficava admirado com aquela reação. E sabem como é papo de botequim e principalmente de Cariocas, sempre terminava com um vamos marcar, pô!.

A casa funciona desde a sua inauguração, em 1966, no mesmo endereço em Vicente de Carvalho. Com a ótima, farta e única receita de bacalhau servida e seus espetaculares bolinhos, desde aquela época ganhou notoriedade. Na parede próxima ao balcão de madeira em formato de jota invertido há reportagens e fotografias antigas.

Não se espante, é da forma como disse acima, só há um prato de bacalhau, denominado "à moda da casa", o que varia são os tamanhos: executivo, meio e completo, e são todos muito fartos. Como eu fui sozinho, pedi o executivo. Este é indicado para duas pessoas, para quem quer levar um pouco pra casa ou para quem come a beça mesmo. E sempre abram a mesa com alguns bolinhos, na proporção de pelo menos dois para cada pessoa, já que o bacalhau não demora muito a sair. Vantagem excepcional de se trabalhar com este sistema de prato único.

A apresentação é a seguinte: bacalhau empanado frito, batatas cozidas na água do bacalhau e a salada de cebola, tomate, palmito juçara do tipo "tolete", aquele grosso (grafado também como jussara) e azeitonas pretas.

Os bolinhos são realmente fenomenais no sabor, aparência e recheio. Extremamente consistentes, pois, são "bem apertados" durante a feitura, conforme disse a Dona Natividade, esposa do atencioso Seu Neca, o proprietário do lugar. Cada bolinho pesa cerca de sessenta gramas e tem uma azeitona preta com caroço dentro, cuidado!. 

O criador do prato foi o Seu Manuel, o Chacrinha ( in memoriam ). Que também detém o mérito da receita do bolinho.

Há vinte anos mandando da cozinha para as mesas e balcão os generosos pratos e os substanciosos bolinhos, está o José Renato, mais conhecido como Bigode. Nas fotografias antigas pode-se conferir o quão portentoso era o bigode do cara e que com certeza causaria inveja em Nietzsche. Atualmente é menor e faz extensão com um cavanhaque. Não me contive e procurei saber o motivo de não ostentar mais o consagrado bigode:

 "_ É pra minha mulher não enjoar. É preciso mudar o visual."


Aí está a fera, que com a manha de ficar mudando o visual mantém o casamento com a Dona Jaqueline bem sólido. Já são vinte e três anos juntos, desde o namoro. Vale filosofar: mudar para manter!


Mais um que dá aula de simpatia e cordialidade é o garçom Julinho da Adelaide, que na verdade se chama Luiz Guilherme, está há dez anos na Adega.


Dona Natividade e seu olhar atento. A varanda com várias mesas lotadas. O balcão. ( Pena a foto ter saído ruim, depois modifico e incluo alguma com os bolinhos que esqueci de fotografar. )


Fui à Adega três vezes em uma semana. Na primeira, numa noite de Quinta-Feira, apenas bebi cerveja, comi três bolinhos e meia salada de palmito, que é enorme!. Enquanto ia sentindo o clima da casa. É incrível a quantidade de pessoas que passam para comprar bolinhos e levar para casa. 

Conversei com o Seu Neca que me explicou a composição do prato e recomendou que sozinho eu deveria pedir o executivo. 

Voltei no dia seguinte para almoçar. Deixei para ir num horário o mais adiantado possível, aguentei até as 14:00 e me pirei de Acari para lá. Ao me aproximar vi todas as mesas da varanda ocupadas e foi inevitável pensar que o acolhedor balcão estaria abarrotado, que nada! Ninguém no balcão! Oba!

Sentei-me na penúltima posição do fundo. Pedi uma tônica, o executivo e fiquei curtindo o movimento. Dali via pratos e pratos serem colocados na janelinha e os garçons passando e recolhendo-os para distribuição dos pedidos. 

Num golpe de muita sorte, quando o meu ficou pronto, fui servido pelo próprio Bigode que de forma solene dispôs a toalha de papel e os pratos, meio solene guindou uma maciça posta de bacalhau, uma batata e pôs num prato, para em seguida, com leve brutalidade dar uns golpes com o garfo para que se espatifassem um pouco e derramou o azeite generosamente, bateu com a lata no balcão, me desejou bom apetite e voltou para a cozinha.


Lá usam duas marcas de azeite, Serrata e Mondegão. No balcão só tinha o Serrata, perguntei se havia algum Mondegão dando sopa e logo o Bigode pegou uma lata zero-bala na dispensa para me servir.



Agradeci e comecei a comer. Realmente é excelente, a fama está muito bem justificada. O bacalhau bem dessalgado, a batata no ponto e com a simples manha de ser cozida com uma das águas do demolho, simples assim, mas que muitos lugares negligenciam de forma inaceitável. Comi com prazer, com certeza voltaria, e voltei. Mas não foi para comer, queria apurar a questão do bigode do Bigode, aproveitei e bebi uma gelada. 

Durante todo o ano vende-se massa para bolinho, bacalhau salgado, dessalgado e semi-pronto. Com a aproximação das comemorações de fim de ano a procura aumenta muito, assim como também a demanda de vários grupos que querem fazer lá seus banquetes de confraternização. Por isso, nesta época são contratados três funcionários temporários para ajudar a dar conta do alto movimento.

Serviço desta matéria:

Bacalhau executivo - R$70,00
Bolinhos - R$3,00 a unidade
Cerveja - R$7,00 a Heineken. Existem outras opções e talvez alguma variação de preço
Massa para bolinho - R$40,00 o quilo. Do jeito da Adega, dá pra fazer dezessete unidades.

Meia salada de palmito - R$19,00

Faça contato com eles para maiores informações e atualizações de preços:

Telefone: 21-24821571

Aceita cartões de débito e crédito

Funcionamento:

Segunda à Sexta - das 08:00 às 22:00
Sábados - 08:00 às 24:00
Domingos - 08:00 às 16:00

Localização:

Avenida Pastor Martin Luther King Jr , 6031 loja A ( antiga av. Automóvel Clube )
Referência: Ao lado da estação do metrô

Estacionamento: Sei lá!













sábado, 2 de novembro de 2013

Bar do Candinho - Gamboa

Foi num dia de Carnaval em 2011, numa tarde extremamente quente, que eu e meu amigo Valdyr Alvarez andávamos errantes pelas ruas da Gamboa a procura do bloco Prata Preta, eu acho. Aliás já nem lembro se era mesmo no Carnaval de fato ou numa semana que o antecedia ou sucedia, enfim, isso definitivamente não é importante. A intensidade da minha embriaguez rivalizava com a do sol inclemente, cuja incidência do assombroso calor fazia com que nossas gargantas clamassem por algo gelado, e o resto do corpo por sombra pelo menos.

Encontramos o bloco já no cruzamento das ruas Rivadávia Correia e da Gamboa. Os ambulantes, bem poucos, não tinham bebidas geladas. Eu já havia aterrissado em Metchyubil, um continente distante demais, onde nem Marco Polo, Gulliver, Alexandre o Grande e Amyr klink conseguiram chegar.


Decidimos fazer o caminho de volta e procurar algum canto onde pudéssemos fazer um pouso e reavivar os ânimos. Na verdade eu era o mais prejudicado, minha necessidade ia além de água gelada e alguma comida.


Eu jamais havia andado pelas ruas da Gamboa, raramente passava de ônibus. O Valdyr muito menos, o Candango acabava de chegar ao Rio, vindo de Brasília, e estava assustado com os tipos sinistros que passavam por nós, com aquele pedaço tão importante da cidade, com muitos dos seus casarões e sobrados em ruínas, ruas esburacadas, calçamento precário, conferindo ao lugar o aspecto daquilo como de fato estava, abandonado. 


Quando eu parei num recuado para tirar uma água do joelho o menino quase infartou, perguntava se eu estava louco, ali naquele lugar, gente passando e eu lá me esvaziando na maior cara de pau.


Depois de alguns minutos de uma lenta caminhada e em meio a resmungos meus e dele, vimos um botequim. Tinha poucos clientes, todos, sem exceção, eram desses tipos que podemos afirmar se tratar de profissionais do copo. Sim, eu estava bêbado, mas sou bom fisionomista, já esses lances de efemérides não são muito comigo não.


Entramos, escolhemos uma mesa e nos acomodamos. Pedimos água e cerveja. As duas garrafas de água praticamente se evaporaram tamanha era a sede de cada um. Enchemos os copos de cerva e matamos de uma virada só, delícia, gelada, reconfortante, o restante foi de forma parcimoniosa. 


Perguntamos sobre o que comer e o senhor detrás do balcão, com seu olhar oblíquo, sugeriu os bolinhos de bacalhau e falou o preço, um Real. Numa situação comum, logo imaginaria que viria uma tranqueira daquelas, mas não era o caso, concordamos:



                                                            QUE MARAVILHA!



    Fotografia tirada em uma visita recente, no frasco de mel tinha pimenta.


Após a segunda cerveja e mais outra porção com dez bolinhos, aconteceu o inevitável, sempre que visito Metchyubil é assim, emborquei na mesa e dormi no ato, gostoso, sem cerimônias, e ronquei muito. Essa era a minha outra necessidade essencial, eu precisava dormir. Não sei quanto tempo durou, mas foi o suficiente pro Valdyr se emputecer. Foi engraçada a reação dele, todo polido o garoto, achou uma tremenda falta de educação da minha parte eu desmoronar daquele jeito e roncar alucinadamente.


Acordei recuperado, bebi mais água e pra alegria do menino polido dispensei o poste e fui ao banheiro, lavei o rosto com o resto da água gelada e sugeri outra cerva. Bebemos, pagamos e fomos embora. 


Até bem pouco tempo, um ano ou pouco mais, ignorava o nome daquele botequim cheio de galhos de folhas de louro amarrados e alhos trançados espalhados pelas paredes e teto. Onde havia no espelho redondo acima da pia do salão, escrito com tinta branca, dessas laváveis, uma das opções do cardápio: Filé de congro rosa, arroz e batata cozida.


O tempo passou e eu não havia esquecido da experiência, foi através do Raphael Vidal que fiquei sabendo se tratar do Bar do Candinho e que era possível comer muito bem e barato, ainda aqui no Rio-Paris-Genebra de Janeiro.


Finalmente retornei lá, eu já ia indo à caminho do Bar do Jóia quando me lembrei do Candinho, alterei o curso e atraquei lá. Mas, como escreveu o Michael Ende, em A História Sem Fim, essa é uma outra história e fica para uma outra ocasião.